Esses dias, estava indo trabalhar (trabalho em Zona Rural, no interior) e o motorista da ambulância (sim, eu vou na parte de trás da ambulância) perguntou se eu me incomodava por ele levar também uma moradora da localidade, que tinha vindo à cidade com uma das filhas porque a menina tinha se machucado. Claro que eu não me incomodei, e lá veio a moça…
De mais ou menos 30 anos, mas com aparência de 40, suja, mal vestida, descalça, e com uma menininha de quase 3 anos com um baita curativo na testa. Como o caminho é de uns 10km de estrada de chão, fomos conversando. Ela me contou que tinha ido à cidade pra levar a menina ao hospital porque o marido dela (padrasto da menina) tinha batido com o cabo da enxada na cabeça da garotinha. Até aí, já era choque de realidade suficiente pra mim. Como assim bater na cabeça de uma criança de 2 anos de idade? Perguntei o que ela tinha feito e ela “disse” que a polícia o tinha levado (menos mal…)
Mas o choque de realidade veio quando ela começou a contar, que tinha mais 5 filhos em casa, inclusive um bebê de 9 meses, que ainda mamava no peito e estava sem mamar desde a noite anterior, pois ela tinha saído pra socorrer a garotinha. Que ganhava 122 reais do Bolsa Família, mas pagava R$85,00 de aluguel. Fiz as contas mentalmente e sobrava pra ela pouco mais de 30 reais POR MÊS pra todas as despesas…
Gente… o que uma pessoa, com SEIS crianças dentro de casa, faz com 30 reais por mês? Absolutamente nada, então ela disse que, sem vergonha nenhuma, pedia mesmo as coisas nas casas dos vizinhos… leite, roupa, óleo, sal, o que dessem era bem-vindo.
É nesse momento que a gente deve parar pra pensar na nossa vida. Não é minha função mudar o mundo, nem quero ficar dando uma de demagoga aqui, mas posso falar da minha experiência. Confesso a vocês que passei o restante do dia avaliando a minha vida: tudo que tenho, tudo que posso comprar… e foi um dia mais feliz… não por ficar feliz com a desgraça dos outros, mas por perceber que eu reclamo demais de uma vida maravilhosa que eu tenho.
Naquele dia mesmo juntei roupas, biscoitos, material de higiene e guardei pra entregar à moça… Se eu vou mudar a vida dela fazendo isso? Claro que não, mas posso fazer a diferença por um diazinho…
E aí, vamos tentar fazer a diferença na vida de alguém só por um diazinho?
Nossa miga que história hein? É incrível mas pra gente R$ 30,00 não é nada... é como chamamos... "ah, é dinheiro de pinga"... (pinga não né... mas é modo de falar) essas coisas né. Tem gente que não tem mesmo nada e imagino o que ela deve passar tendo que sustentar 6 crianças com este dinheiro. Meu Deus... mas olhe, não é demagogia o que vc escreveu não, fazer a diferença na vida de uma pessoa faz muito bem a pessoa e a nós mesmas, parabéns pela iniciativa e obrigada pelo relato - fiquei arrepiada quando li. É, vou repensar também...
ResponderExcluirO mais engraçado é que não é só com $$ não, outro dia uma senhora bem idosa ia passando por mim, e qdo eu olhei pra ela, parecia tão triste... eu olhei nos olhos dela e dei Bom Dia... Acabei batendo maior papão e ouvindo um "Deus mandou vc passar por mim hj,precisava disso"... ai, isso faz um bem...
ResponderExcluirEssas situações assim tão díspares já nao me surpreendem muito, embora ainda me choquem. Me encho de sentimentos confusos, sinto culpa por nao agradecer, sinto remorso por poder ajudar mais e nao fazê-lo.
ResponderExcluirMas a ideia que eu tenho pro niver da minha Luluka vc vai gostar de saber, tem a ver com esse choque de realidade...É como vc disse, nao muda o mundo, mas faz a diferença por um dia.
Adoro sua dissertação, visitando pela primeira vez e adorando...
Bjs